dimanche 27 mars 2016

Cláudio Torres - 2

A história é feita de muitas memórias. O documento escrito, nas suas linhas e entre-linhas, pretende mostrar à posteridade os feitos dos poderosos, os registos de uma história encomendada. Aos oprimidos, sem escrita, resta o efémero de um gesto ou acorde musical, resta o artefacto humilde de todos os dias, a panela escura que esbeiçou de cansaço ou o candil onde o azeite secou. Neste nosso museu vamos contar a história possível dos vencidos, dos camponeses, pescadores e artesãos de Mértola, a quem chamaram mouros, e que habitaram e ainda habitam as casas dos seus antepassadosmaures.
Cláudio Torres
  

Nascido em Tondela, no norte do Portugal, Claúdio Torres fugira do país para escapar da ditadura de Salazar e das guerras coloniais, passando pela Checoslováquia, Roménia (onde se formou em História da Arte ) e África do Norte, antes de regressar a Portugal, em 1974 e integrar a Faculdade de Letras de Lisboa, onde lecionou até 1986. Cláudio Torres chegou em Mértola em 1978, onde fundou o campo arqueológico, com particular ênfase para o "período islâmico" e as escavações do bairro almóada de idade. 

A “continuidade” entre as duas margens do Mediterrâneo apaixona-o e sobre o período islâmico em Portugal Cláudio Torres explica que não se tratou de conquistas militares, do mito dos mouros penetrando a peninsula ibérica, conquistando territórios, submetendo as populações pela força, e alguns séculos mais tarde expulsos pela reconquista épica dos exércitos cristãos. O que nos contam as ruínas de Mértola, segundo Cláudio Torres, é a chegada gradual de comerciantes oriundos da Africa do Norte e da bacia mediterrânica, que se instalaram no que era então um porto fluvial importante, e que trouxeram com eles, o Islão. Ele fala-nos de um passado onde não existem "eles e nós”. E são os objectos do quotidiano que mostram esta continuidade, que encontramos também no saber culinário, no artesanato, nas palavras árabes utilizadas sem o saber, pelos portugueses, na poesia popular...

Director do Campo Arqueológico de Mértola (desde 1980)
Prémio Pessoa (1991), Prémio Rómulo de Carvalho (2001), Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora (2001).

Director do Parque Natural do Val do Guadiana, Presidente do Comité Português do l'ICOMOS (Comité Internacional dos Monumentos et Sítios). Representante do Portugal no Comité do Património Mundial da UNESCO em 2000, membro do Conselho Consultativo do IPA - Institut Portugais d'Archéologie e do IGESPAR - Institut de Gestion du Patrimoine Architectonique et Archéologique). Membro da Comissão Científica do projecto "Museu sem Fronteiras". Membro da direcção científica dos projecos e exposições(Portugal Islâmico, em 1998; Marrocos-Portugal: portas do Mediterrâneo, em 1999, Discover Islamic Art, 2004-2007 etc.)

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